Lugar
Tínhamos que construir um edifício de apartamentos em um típico lote de 8,66m de largura em Boedo, uma zona que, ainda sem perder as características de bairro, vem modificando sua fisionomia como consequência da densificação urbana produzida nesses últimos anos em importantes setores da cidade. A particularidade do terreno em que devíamos intervir é que seu fundo é adjacente a um pátio urbano, bem arborizado, onde funciona uma escola de futebol e uma pequena praça. As vistas a este pulmão verde coincidem com a melhor orientação: o norte.
Proposta
Pensamos que, até as mudanças que aconteceriam a curto ou médio prazo no setor, o edifício devia ser uma peça carente de adjetivações, suficientemente neutra desde o formal para conviver com o que hoje está ali e o que pode acompanha-la no futuro. Com uma vontade concentrada em sua expressão construtiva e em seu processo produtivo. Por essa razão, nos pareceu apropriado propor um edifício cuja fachada não apresentasse acentos nem articulações, e se possível, se resolvesse com um único material. Propusemos também seguir experimentando com o concreto aparente, como temos feito nas casas de veraneio em Mar Azul, ou até mesmo em casas de uso permanente na grande Buenos Aires. Fizemos assim porque consideramos que esse sistema estético construtivo com as adaptações necessárias resolvia tanto o tema de um material dominante de fácil assimilação em diferente entornos, como no encurtamento do tempo de construção, a baixa manutenção futura e um custo dentro do padrão.
A adaptação fundamental foi deixar o concreto aparente exclusivamente para resolver as fachadas, o núcleo vertical e uma série de paredes internas que cumprem a dupla função de divisórias de ambientes como estrutura resistente. Para os dois muros perimetrais, parecia logico continuar pensando em uma solução tradicional de pilares de concreto ocultos em um muro duplo de alvenaria. Quisemos também, como na Casa de Concreto, resolver as fachadas como um fole entre o espaço público e privado, com uma série de paredes laterais que variam sua posição de andar e andar e permitem resolver as aberturas em cada ambiente dando toda largura e altura disponível.
As vistas do interior que dão para a rua estão protegidas por estes elementos e as que dão ao pulmão verde permitem perceber, à medida que o usuário desloca-se dentro do apartamento, enquadres sempre diferentes dessa paisagem. Outro dos propósitos que perseguimos foi que o térreo estivesse livre de funções, oferecendo ao espaço publico ar, luz e vistas ao jardim posterior, e que por outro lado não houvesse unidades habitacionais prejudicadas por seu contato com a cota pública. Por último, nos preocupamos que cada apartamento contasse com a maior flexibilidade de uso possível e dotar cada um de uma sacada generosa, protegida pelos elementos que organizam as fachadas.
Organização Funcional
É um edifício de térreo livre, com 5 andares tipo de quatro unidade mono ambientes cada um, e um sexto onde se desenvolve um terraço e ambientes de uso comum, além de uma unidade habitacional de um dormitório.
O eixo com vistas para a cidade e iluminação natural acessa, na planta tipo, quatro unidades espelhadas: duas para frente, que se emparelham por dois banheiros e uma cozinha, e outras duas espelhadas. As paredes de concreto aparente que definem estes espaços de serviço têm, como já dissemos, uma função estrutural e também delimitam esses ambiente “fole” que dão maior intimidade sonora aos espaços principais de cada unidade habitacional. A criação dos pequenos pátios no centro da planta obedece ao propósito de fornecer a todas as unidades ventilação cruzada e iluminação adicional no setor mais profundo da planta.
Solução Construtiva
O sistema estrutural, que resolve a planta tipo com apoios em seu centro, pediu um espaço de transição para se conseguir o térreo livre como desejado, com apoios somente no perímetro. Isso foi resolvido através de vigas que recebem as cargas do sistema de paredes centrais da planta tipo e as direcionam aos eixos perimetrais. Este sistema de vigas fecha-se acima e abaixo com lajes que permitem também o desvio dos montantes das instalações até as bordas sem necessitar de um forro que introduza outro material.
Os muros foram rebocados e pintados com látex branco no interior e com um reboco plástico no exterior. Os pisos são de pranchas alisadas de cimento divididas por planchuelas de alumínio. O encontro entre paredes e o solo foi resolvido com um perfil rebaixado de alumínio, como uma fenda. As aberturas são de alumínio anodizado na cor bronze escuro. O sistema de calefação e refrigeração está resolvido com equipamentos Split individuais.
De Mar Azul a Boedo
Foi muito interessante como experiência para nosso escritório trabalhar sobre a adaptação de um sistema estético construtivo originado para intervir em um ambiente e um programa especifico: casas de veraneio em um bosque marítimo a um tema e um entorno tão diferentes. Assumimos o desafio de que a linguagem que vinhamos desenvolvendo nas habitações não suportaria a mudança de escala, as mudanças do programa e sua locação no tecido urbano. O resultado obtido nos confirma que um sistema de estratégias de abordagem de projeto e soluções estética construtivas, pensado a priori como corpo de ideias, não limita as possibilidades de resolução dos diferentes problemas que possam aparecer na experimentação a cada novo encargo que surge.
Informação Complementar:
- Empresa Construtora: FK Construcciones